Entre Pontes, Mundos e Serenatas
Crônicas, poemas e serenatas sobre o tempo, as pessoas e o que fica

Há trajetórias que não se explicam por datas, mas por camadas de sentido. A de Fredi Jon começa oficialmente em 1985, quando participa pela primeira vez de uma antologia poética pela Livraria Scortecci. Mas, se formos honestos com a verdade dos fatos, ela começa antes — no incômodo silencioso de quem percebe cedo demais que o mundo não cabe em explicações simples.
Em 1986, ainda jovem, lança As diversas faces dos diferentes mundos. O título já denunciava: não se tratava de um livro apressado, mas de uma tentativa corajosa de organizar o caos. Natureza, mulher, alimento, armas, viagem — temas que muitos tratariam como compartimentos, Fredi enxergava como espelhos. Tudo era mundo. Tudo era rosto. Tudo era pergunta. Ainda no terceiro colegial, ele junta a galera da escola para o lançamento do livro. Um gesto aparentemente simples, mas revelador: a poesia, para ele, nunca foi um ato solitário; sempre precisou de testemunhas.
Em 1991, retorna às antologias, novamente pela Scortecci. Aqui, algo muda. A escrita já não busca apenas revelar como ele vê o mundo, mas entender como o mundo o atravessa. É o início de uma ampliação de escuta — algo que se tornaria marca central de sua vida artística.
O salto seguinte demora quase três décadas. Em 2020, pela Amazon, lança Serenata – uma ponte entre os mundos. Não é coincidência o uso da palavra “ponte”. O livro costura passado, presente e futuro a partir da memória afetiva, da crítica social e, sobretudo, da defesa da serenata como gesto humano, político e sensível. Aqui, Fredi não escreve apenas como poeta: escreve como quem viveu o que narra. A poesia deixa de ser apenas linguagem e passa a ser experiência compartilhada.
A partir de 2022, essa experiência começa a se expandir para além do livro. Fredi Jon passa a escrever regularmente para mais de vinte espaços diferentes, entre jornais e plataformas digitais, onde publica histórias de serenata, crônicas do cotidiano e observações sensíveis — e muitas vezes incômodas — sobre a vida, o mundo e a sociedade. Não escreve para ocupar espaço, mas para criar pausa. Seus textos funcionam como pequenas serenatas impressas: chegam sem alarde, mas ficam.
Entre 2024 e 2025, participa das antologias Além Mares III, Amizade Poética II e III, ampliando geografias e diálogos. Há algo importante nisso que talvez passe despercebido: não é a constância da publicação que impressiona, mas a coerência do percurso. Fredi não corre atrás de holofotes; ele aprofunda trincheiras afetivas.
E então chegamos a 2026. O novo livro, FREDI JON – O Cantador de Histórias, pela Editora Chá da Vida Brasil, de Jones Pinheiro, não surge como ruptura, mas como consequência. Depois de 25 anos de trajetória com a trupe da Serenata & Cia, o poeta entende que algumas histórias pedem menos metáfora e mais carne. Histórias divertidas, emocionantes, absurdas e profundamente humanas — vividas na porta das casas, nos hospitais, nas reconciliações, nas despedidas.
Se no início a missão era revelar sua forma poética de ver o mundo, agora o desafio é maior: mostrar como o mundo respondeu a esse olhar. Há maturidade nisso, mas também risco. Transformar vivência em narrativa exige coragem para não romantizar demais nem endurecer demais. É aqui que Fredi aposta tudo o que construiu.
Talvez a grande pergunta que atravessa sua obra seja simples e incômoda: o que fazemos com aquilo que sentimos? Ele escolheu cantar, escrever e lembrar. Poderia ter ficado apenas na poesia intimista, mas preferiu o atrito da rua, o improviso da serenata, o erro, o riso, o choro alheio.
E é justamente por isso que sua história não é apenas literária. É ética. É uma escolha contínua de permanecer sensível num mundo que recompensa o contrário. Quem lê Fredi Jon não encontra respostas fáceis — encontra pontes. E atravessar pontes, como se sabe, exige coragem dos dois lados.




















