A Serenata
Augusto de Lima • 27 de agosto de 2018
 
 A Lua Cheia de Maio Entre as Montanhas
  Nota Editorial: 
 
 
  
 O primeiro verso do poema a seguir menciona a lua cheia de
 
 maio nas montanhas de Minas  Gerais. Montanhas são um antigo
 
 símbolo da elevação espiritual e do contato com o céu. Para as
 
 mais diferentes tradições e culturas, os deuses habitam as
 
 montanhas sagradas. Alguns grandes sábios vivem de fato no alto de
 
 cordilheiras nevadas, como nos Himalaias; e as montanhas andinas
 
 são fonte de inspiração para a tradição mística da Bolívia e do Peru.
 
  
 Por outro lado, o plenilúnio de maio é uma data à qual os
 
 teosofistas atribuem importância sagrada. Os budistas
 
 comemoram o nascimento e a iluminação de Gautama Buddha
 
 na lua cheia de maio. Do ponto de vista esotérico, o plenilúnio de
 
 maio reaviva sob o comando do Sol o contato entre a Terra e as
 
 Plêiades, fontes de inspiração espiritual da nossa humanidade.
 
  
 Em “ A Serenata 
”, assim como em seu poema
 
 “ Correspondência 
” [1] 
, Augusto de Lima menciona
 
 a relação de identidade  que há entre as escalas de
 
 som, de luz e de aroma . A equivalência entre estas três
 
 escalas de vibração constitui um tema central em teosofia
 
 clássica,  conforme se vê  na  obra de Helena P. Blavatsky. [2] 
 
  
 (Carlos Cardoso Aveline)
 
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 A Serenata
 
  
 À D. Olga de Suckow
 
  
  
 Plenilúnio de Maio em montanhas de Minas!
 
Canta, ao longe, uma flauta e um violoncelo chora.
 
 Perfuma-se o luar nas flores das campinas,
 
 sutiliza-se o aroma em languidez sonora.
 
  
 Ao doce encantamento azul das cavatinas [3] 
,
 
 nestas noites de luz mais belas que a aurora,
 
 as errantes visões das almas peregrinas
 
 vão voando a cantar pela amplidão afora…
 
  
 E chora o violoncelo e a flauta, ao longe, canta.
 
 Das montanhas, cantando, a névoa se levanta,
 
 banhada de luar, de sonhos, de harmonia.
 
  
 Com o profano rumor, porém, desponta o dia,
 
 e na última porção da névoa transparente
 
 a flauta e o violoncelo expiram lentamente.
 
  
  
 NOTAS:
 
  
  [1] 
Disponível em nossos websites associados.
 
  
  [2] 
Veja, por exemplo, o artigo “Occult or Exact Science?”, em “Theosophical Articles”, H.P. Blavatsky, edição em três volumes, Theosophy Co., Los Angeles, volume II, pp. 46-74, especialmente pp. 46-58. Vale a pena ver também “The Secret Doctrine”, H.P.B., Theosophy Co., volume I, pp. 564-565, sobre Som, Átomos e Éter; e ainda o artigo “As Vibrações Ocultas”, de William Q. Judge, que pode ser encontrado em nossos websites associados.
 
  
  [3] 
A cavatina é uma pequena melodia ou cantiga, sem segunda parte ou repetição. Ela é  frequentemente instrumental  e pode ser intercalada com a recitação de algo.
 
  
 000
 
  
 O poema acima é reproduzido do volume “Poesias”, de Augusto de Lima, Editora H. Garnier, Rio de Janeiro / Paris, 1909, 300 pp., ver p. 185. A ortografia foi atualizada.
 
  

Os sábios pitagóricos diziam que o universo é musical. De fato, cada som e cada silêncio parecem ter um efeito especial sobre o ser humano.  Seu significado específico pode ser libertador ou não,  trazendo alívio, paz, serenidade,  ou talvez inquietação. Por isso  o excesso de ruídos – a moderna poluição sonora – está longe de ser um problema sem importância.
 

A música das esferas, de que falavam os pitagóricos, é escutada quando a nossa vida física, emocional e mental está em consonância  com o grande processo vital do planeta e do cosmo. “Ora, direis, ouvir estrelas” – escreveu Olavo Bilac, antecipando o desprezo dos céticos. E, no entanto, sabemos que é possível ouvir as estrelas, e que elas não necessitam de palavras para falar. Basta que haja silêncio mental da parte de quem escuta.
 









